Para que tenhamos todos um bom espectáculo, por favor desligue o seu telemóvel e outros aparelhos que emitam
som ou luz. Lembramos ainda que é proibida a recolha de som ou imagens, bem como comer e beber. Obrigado!
Duração:
Aproximadamente 60 minutos sem intervalo. Os retardatários só serão admitidos quando não perturbarem o
desenrolar do programa. The organizer reserves the right to alter the programme and/or performers.
Sobre Percursos
Plena de cores e linhas, Percursos
é uma tonalidade, uma impressão da vida. A peça explora a avidez e a hesitação, receios e impulsos para
seguir em frente, confiança e independência, uma persistente procura pelo sentido da vida. Através de
imagens vídeo, dramatização e movimentos corporais abstractos, Percursos
explora a relação entre os indivíduos e o mundo, entre construção e destruição, morte e renascimento.
A ideia para o espectáculo surge das reflexões da própria coreógrafa sobre a vida, isto é,
um retrato do Homem a viver o presente, entre realidade e ilusão. O palco é exposto como uma cena
resultante de um desastre, talvez um tsunami, um tremor de terra, durante a qual as pessoas foram
separadas, soltadas, deixadas à deriva ou em conflito. De qualquer forma, talvez nada disso aconteça, de
facto, fora das nossas mentes, num mundo à beira do colapso e a desfazer-se.
Utilizando a
linguagem corporal, Hou Ying volta a confrontar-nos com as incertezas e dificuldades da vida, com as
cores a representar tensão, e as linhas (suspensas) a representar percursos vividos, expondo por
completo o estado das mentes humanas.
Percursos
é uma encenação da coreógrafa e artista independente Hou Ying que convidou Randall Love, da Universidade
norte-americana de Duke, para criar a música. No interior de um espaço puro e racional, esta peça
justapõe uma visão fanática e psicótica a uma atmosfera de sensualidade, racionalidade e pureza. A
fisicalidade é utilizada enquanto mensageira, libertando-se de uma corrente de auto-reconhecimento,
escapando-se do corpo.
Anos depois da criação do Dança Teatro Vision, em Nova Iorque, em 2011 Hou Ying fundou a sua própria
companhia. Incorporando a sua formação em dança tradicional clássica chinesa, dança popular, ballet,
ópera chinesa e artes marciais, tal como técnicas adquiridas nos EUA junto de mestres como Martha
Graham, José Limon, Merce Cunningham e Trisha Brown. A companhia de Hou Ying tem-se dedicado a explorar
a junção de conceitos coreográficos orientais e ocidentais.
Impelida por um consistente
espírito criativo, a companhia desenvolveu trabalhos de relevo como Interface (2011), Infinitude (2013), Tu Tu (2014), O Momento (2015) e Desaparcer
(2022), entre muitos outros. Descritos como peças interdisciplinares de vanguarda, os trabalhos
incorporam elementos teatrais, música experimental, e arte contemporânea. Assim, o Dança
Teatro Hou Ying tem andado em digressão por inúmeros países, convidado para festivais internacionais e
por instituições de prestígio, como o Tisch Theatre in Art Institute de Nova Iorque, o Festival de Artes
ao Ar Livre do Centro Lincoln, o Festival de Arte Asiática de Nova Iorque ou o Openlook de São
Petersburgo. Ao longo dos anos, o Dança Teatro Hou Ying estabeleceu-se internacionalmente enquanto
companhia de dança contemporânea chinesa, e força motriz da fusão entre a cultura oriental e
ocidental.
Bailarina e coreógrafa pioneira, fundadora e directora artística da companhia com o seu nome. Night of Spirit, o primeiro trabalho coreográfico de Hou Ying, venceu o prémio maior do Concurso Internacional de Coreografia Moderna da Bielorrússia em 1996. Em 2001 foi-lhe atribuída uma bolsa do Concelho Cultural Asiático para pesquisar e criar em Nova Iorque. Um ano depois, na mesma cidade, a coreógrafa ingressou na companhia de Artes da Dança Shen Wan onde se tornou um elemento relevante no processo criativo, tendo aparecido por três vezes em artigos da revista do New York Times e eleita “Bailarina do Ano”, em 2004. Em 2008, Hou Ying regressou à China com a companhia Shen Wei para criar The Picture, um dos espectáculos de abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim. Em 2009, a sua carreira mudou o foco para a capital chinesa onde em 2011 estabeleceu a Dança Teatro Hou Ying. A companhia tornou-se numa das pioneiras de arte contemporânea multigénero dedicando-se a promover o improviso e o ensino de dança contemporânea.
Pioneira da dança, Hou Ying encaixa-se no estrito grupo de criadores que conquistaram públicos no país e
no exterior. Fazendo uma antevisão da sua estreia em Macau, pintámos um breve retrato de uma figura que se
coloca confortavelmente entre as coreógrafas mais sofisticadas e inovadoras da China.
Os que
estão familiarizados com o mundo da dança contemporânea na China certamente que já ouviram falar de Hou
Ying. A bailarina tornada coreógrafa é produto de uma geração de artistas forjada há algumas décadas,
quando esta forma de arte se começou a expandir e expressar no país.
Os primeiros pulos
Nascida em Jilin, a sua graciosidade e queda para a dança foi notada em tenra idade, tinha sete anos. Ao
completar 12 primaveras, graças à persistência de um professor de música, a menina entra na academia de
dança de Changchun, na sua cidade natal, onde ao longo de sete anos estudou dança tradicional, antes de
dar um primeiro grande passo rumo ao profissionalismo na Companhia Artística da Polícia de Pequim.
Procurando evoluir, almejando muito além da prática tradicional de artes marciais e ballet, aos 23 anos
Hou decide partir rumo ao Sul e ingressa na Academia de Dança Moderna de Guangdong, a primeira escola
profissional do género. A decisão surge de uma nova vontade de mudança de percurso artístico, uma procura
de novos horizontes. E a aventura ainda estava no início.
Em 2001, a carreira de Hou Ying conheceu novo ponto de viragem depois de ter obtido uma bolsa do Fundo
Asiático de Cultura para estudar nos Estados Unidos. Tendo-se mudado para Nova Iorque para aprender com o
prestigiado coreógrafo sino-americano Shen Wei, tornou-se bailarina principal da companhia, subindo
regularmente aos palcos do Centro Lincoln, integrando e colaborando em peças como A Sagração da Primavera ou Escada para o Céu. A nova realidade e atmosfera criativas tiveram um grande impacto na forma como Hou passou a sentir e a
pensar a dança. Confrontada com as novas ideias que fervilhavam na cidade, influenciada por criadores
pós-modernos como Merce Cunningham ou Trisha Brown, e incentivada por um novo tipo de público, as suas
preocupações mudaram. Uma vez que a fisicalidade se tornara no novo foco, a criadora entregou-se ao corpo
enquanto objecto de estudo tendo ganho reconhecimento como “a bailarina dos traços
perfeitos”. Depois de ter sido nomeada Bailarina Revelação de 2004 pelo jornal New York Times, a carreira de Hou sofreu nova mudança abrupta, consequência de uma infeliz lesão que parcialmente lhe
retirou protagonismo.
Regresso a casa
Reciclada por uma série de novas ideias e influências, a coreógrafa regressou à China, onde tirou o
melhor partido da experiência acumulada para fundar a sua própria companhia, a Dança Teatro Hou Ying. O
regresso foi sentido como o retomar de um caminho que há muito deixara para trás. Tal como revelou certa
vez, “20 anos depois de ter partido, no retorno vim encontrar o mesmo público, que aqui manteve viva a
memória do meu último espectáculo”.
O estabelecimento da companhia trouxe consigo uma
consistente concepção e encenação de trabalhos arrojados e independentes, tais como Tutu, Ran e Acidente.
Tal produtividade resultou num maior reconhecimento de Hou no país, colocando-a finalmente entre o grupo
restrito de mentes coreográficas contemporâneas em destaque no continente chinês, junto a nomes como o da
pioneira coreógrafa e apresentadora de televisão Jin Xing (cujo trabalho foi aqui apresentado tanto no
Festival de Artes como no de Música), a conhecida Yang Liping (cuja obra-prima O Cerco subiu à cena no CCM
em 2019) ou Tao Ye, coreógrafo inovador sediado em Pequim (convidado do Festival de Artes de Macau em
2016).
Abrindo horizontes
Embora o ímpeto criativo de Hou Ying tenha inequívocos pontos comuns com alguns dos seus compatriotas
criadores de dança, a coreógrafa desenvolveu naturalmente uma identidade e estilo criativo próprio.
Consistentemente aberta a novas ideias, bebendo inspiração de uma diversidade de fontes, Hou é ainda uma
confessa admiradora do génio clássico de George Balanchine e do misticismo de Pina Bausch, para quem olha
como mentores. Os seus trabalhos foram, no entanto, evoluindo para além dessas influências. Hou foi-se
tornando gradualmente adepta da ideia que liga intrinsecamente a dança a outras formas de arte moderna,
estando a sua linguagem e fundamentos conexos a uma reflexão sobre o momento presente, lingando os
bailarinos com o tempo em que vivem.
Estreia em Macau
Tal perspectiva conceptual é vincadamente representada no palco em Percursos. Quando lhe pediram para
descrever o espectáculo, Hou revelou que o trabalho explora os “inesgotáveis e intermináveis desejos
humanos”, que se reflectem, por exemplo no desesperado desejo de viver intensamente buscando mais riqueza.
Sentindo que por si só, a dança já não expressava as suas ideias na plenitude, a coreógrafa utilizou em
palco vídeo e instalações, convidando músicos a criarem música experimental. Movendo-se ao som de ritmos
electrónicos, um elegante grupo de bailarinos utilizam o corpo de forma precisa, executando movimentos
abstractos, por vezes robóticos, explorando vigorosamente o desejo, sensualidade e auto-reflexão. A peça
sumariza a interminável, e por vezes fútil repetição da vida contemporânea, expondo o absurdo
incompreensível do consumo e do desfiar de imagens digitais. Em pano de fundo, o cenário do espectáculo é
adornado por projecções a preto e branco que por vezes são entrecortadas por numerosas faixas de tecido
elástico suspensas, ao mesmo tempo ligando e separando os bailarinos a esse mundo encenado que é
representado em palco. Estes laços materiais e físicos podem ser vistos como extensões, ligações
metafóricas que convidam à reflexão, urgindo o público a sopesar a importância das suas necessidades
contra desejos excessivos. Como descobriremos em breve, estas poderão ser, no limite, as grandes intenções
de Hou Ying.
Este artigo foi publicado originalmente na revista CCM+ (edição de Janeiro – Março, 2023) do Centro
Cultural de Macau
Equipa Crativa e de Produção
Coreografia
Hou Ying
Música
Randall Love
Figurinos
Da Ke
Luzes
Liu Hengzhi
Cenografia
Hou Ying
Imagem
Yang Rui
Bailarinos
Dang Peilong, Kam Hiu Lam Alexis, Huang Jianrong, Yang Yejun, Zhao Kai, Niu Jie, Zhu Ruimeng
Produção
Ge Huichao
Proteja o nosso ambiente! Se não quiser guardar o Programa de Sala, devolva-o por favor à recepção.
Poderá consultar a versão electrónica em www.ccm.gov.mo.
Para que tenhamos todos um bom
espectáculo, por favor desligue o seu telemóvel e outros aparelhos que emitam som ou luz. Lembramos ainda
que é proibida a recolha de som ou imagens, bem como comer e beber. Obrigado!
Duração: Aproximadamente
60 minutos sem intervalo. Pede-se aos espectadores que sejam pontuais. A direcção reserva-se o direito de
determinar o momento e a forma de admissão dos retardatários, bem como a readmissão do público que se
ausente do local do espectáculo.
Sobre Percursos
Plena de cores e linhas, Percursos é uma tonalidade, uma impressão da vida. A peça explora a avidez e a
hesitação, receios e impulsos para seguir em frente, confiança e independência, uma persistente procura
pelo sentido da vida. Através de imagens vídeo, dramatização e movimentos corporais abstractos,
Percursos explora a relação entre os indivíduos e o mundo, entre construção e destruição, morte e
renascimento.
A ideia para o espectáculo surge das reflexões da própria coreógrafa sobre a
vida, isto é, um retrato do Homem a viver o presente, entre realidade e ilusão. O palco é exposto como
uma cena resultante de um desastre, talvez um tsunami, um tremor de terra, durante a qual as pessoas
foram separadas, soltadas, deixadas à deriva ou em conflito. De qualquer forma, talvez nada disso
aconteça, de facto, fora das nossas mentes, num mundo à beira do colapso e a desfazer-se.
Utilizando a linguagem corporal, Hou Ying volta a confrontar-nos com as incertezas e
dificuldades da vida, com as cores a representar tensão, e as linhas (suspensas) a representar percursos
vividos, expondo por completo o estado das mentes humanas.
Percursos é uma encenação da
coreógrafa e artista independente Hou Ying que convidou Randall Love, da Universidade norte-americana de
Duke, para criar a música. No interior de um espaço puro e racional, esta peça justapõe uma visão
fanática e psicótica a uma atmosfera de sensualidade, racionalidade e pureza. A fisicalidade é utilizada
enquanto mensageira, libertando-se de uma corrente de auto-reconhecimento, escapando-se do corpo.
Anos depois da criação do Dança Teatro Vision, em Nova Iorque, em 2011 Hou Ying fundou a sua própria
companhia. Incorporando a sua formação em dança tradicional clássica chinesa, dança popular, ballet, ópera
chinesa e artes marciais, tal como técnicas adquiridas nos EUA junto de mestres como Martha Graham, José
Limon, Merce Cunningham e Trisha Brown. A companhia de Hou Ying tem-se dedicado a explorar a junção de
conceitos coreográficos orientais e ocidentais.
Impelida por um consistente espírito criativo, a
companhia desenvolveu trabalhos de relevo como Interface (2011), Infinitude (2013), Tu Tu (2014), O Momento
(2015) e Desaparcer (2022), entre muitos outros. Descritos como peças interdisciplinares de vanguarda, os
trabalhos incorporam elementos teatrais, música experimental, e arte contemporânea. Assim, o
Dança Teatro Hou Ying tem andado em digressão por inúmeros países, convidado para festivais internacionais e
por instituições de prestígio, como o Tisch Theatre in Art Institute de Nova Iorque, o Festival de Artes ao
Ar Livre do Centro Lincoln, o Festival de Arte Asiática de Nova Iorque ou o Openlook de São Petersburgo. Ao
longo dos anos, o Dança Teatro Hou Ying estabeleceu-se internacionalmente enquanto companhia de dança
contemporânea chinesa, e força motriz da fusão entre a cultura oriental e ocidental.
Bailarina e coreógrafa pioneira, fundadora e directora artística da companhia com o seu nome. Night of Spirit, o primeiro trabalho coreográfico de Hou Ying, venceu o prémio maior do Concurso Internacional de Coreografia Moderna da Bielorrússia em 1996. Em 2001 foi-lhe atribuída uma bolsa do Concelho Cultural Asiático para pesquisar e criar em Nova Iorque. Um ano depois, na mesma cidade, a coreógrafa ingressou na companhia de Artes da Dança Shen Wan onde se tornou um elemento relevante no processo criativo, tendo aparecido por três vezes em artigos da revista do New York Times e eleita “Bailarina do Ano”, em 2004. Em 2008, Hou Ying regressou à China com a companhia Shen Wei para criar The Picture, um dos espectáculos de abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim. Em 2009, a sua carreira mudou o foco para a capital chinesa onde em 2011 estabeleceu a Dança Teatro Hou Ying. A companhia tornou-se numa das pioneiras de arte contemporânea multigénero dedicando-se a promover o improviso e o ensino de dança contemporânea.
Pioneira da dança, Hou Ying encaixa-se no estrito grupo de criadores que conquistaram públicos no país e
no exterior. Fazendo uma antevisão da sua estreia em Macau, pintámos um breve retrato de uma figura que se
coloca confortavelmente entre as coreógrafas mais sofisticadas e inovadoras da China.
Os que
estão familiarizados com o mundo da dança contemporânea na China certamente que já ouviram falar de Hou
Ying. A bailarina tornada coreógrafa é produto de uma geração de artistas forjada há algumas décadas,
quando esta forma de arte se começou a expandir e expressar no país.
Os primeiros pulos
Nascida
em Jilin, a sua graciosidade e queda para a dança foi notada em tenra idade, tinha sete anos. Ao completar
12 primaveras, graças à persistência de um professor de música, a menina entra na academia de dança de
Changchun, na sua cidade natal, onde ao longo de sete anos estudou dança tradicional, antes de dar um
primeiro grande passo rumo ao profissionalismo na Companhia Artística da Polícia de Pequim. Procurando
evoluir, almejando muito além da prática tradicional de artes marciais e ballet, aos 23 anos Hou decide
partir rumo ao Sul e ingressa na Academia de Dança Moderna de Guangdong, a primeira escola profissional do
género. A decisão surge de uma nova vontade de mudança de percurso artístico, uma procura de novos
horizontes. E a aventura ainda estava no início.
Em 2001, a carreira de Hou Ying conheceu novo
ponto de viragem depois de ter obtido uma bolsa do Fundo Asiático de Cultura para estudar nos Estados
Unidos. Tendo-se mudado para Nova Iorque para aprender com o prestigiado coreógrafo sino-americano Shen
Wei, tornou-se bailarina principal da companhia, subindo regularmente aos palcos do Centro Lincoln,
integrando e colaborando em peças como A Sagração da Primavera ou Escada para o Céu. A nova realidade e
atmosfera criativas tiveram um grande impacto na forma como Hou passou a sentir e a pensar a dança.
Confrontada com as novas ideias que fervilhavam na cidade, influenciada por criadores pós-modernos como
Merce Cunningham ou Trisha Brown, e incentivada por um novo tipo de público, as suas preocupações mudaram.
Uma vez que a fisicalidade se tornara no novo foco, a criadora entregou-se ao corpo enquanto objecto de
estudo tendo ganho reconhecimento como “a bailarina dos traços perfeitos”. Depois de ter sido
nomeada Bailarina Revelação de 2004 pelo jornal New York Times, a carreira de Hou sofreu nova mudança
abrupta, consequência de uma infeliz lesão que parcialmente lhe retirou protagonismo.
Reciclada por uma série de novas ideias e influências, a coreógrafa regressou à China, onde tirou o
melhor partido da experiência acumulada para fundar a sua própria companhia, a Dança Teatro Hou Ying. O
regresso foi sentido como o retomar de um caminho que há muito deixara para trás. Tal como revelou certa
vez, “20 anos depois de ter partido, no retorno vim encontrar o mesmo público, que aqui manteve viva a
memória do meu último espectáculo”.
O estabelecimento da companhia trouxe consigo uma
consistente concepção e encenação de trabalhos arrojados e independentes, tais como Tutu, Ran e Acidente.
Tal produtividade resultou num maior reconhecimento de Hou no país, colocando-a finalmente entre o grupo
restrito de mentes coreográficas contemporâneas em destaque no continente chinês, junto a nomes como o da
pioneira coreógrafa e apresentadora de televisão Jin Xing (cujo trabalho foi aqui apresentado tanto no
Festival de Artes como no de Música), a conhecida Yang Liping (cuja obra-prima O Cerco subiu à cena no CCM
em 2019) ou Tao Ye, coreógrafo inovador sediado em Pequim (convidado do Festival de Artes de Macau em
2016).
Abrindo horizontes
Embora o ímpeto criativo de Hou Ying tenha inequívocos pontos comuns com alguns dos seus compatriotas
criadores de dança, a coreógrafa desenvolveu naturalmente uma identidade e estilo criativo próprio.
Consistentemente aberta a novas ideias, bebendo inspiração de uma diversidade de fontes, Hou é ainda uma
confessa admiradora do génio clássico de George Balanchine e do misticismo de Pina Bausch, para quem olha
como mentores. Os seus trabalhos foram, no entanto, evoluindo para além dessas influências. Hou foi-se
tornando gradualmente adepta da ideia que liga intrinsecamente a dança a outras formas de arte moderna,
estando a sua linguagem e fundamentos conexos a uma reflexão sobre o momento presente, lingando os
bailarinos com o tempo em que vivem.
Estreia em Macau
Tal perspectiva conceptual é vincadamente representada no palco em Percursos. Quando lhe pediram para
descrever o espectáculo, Hou revelou que o trabalho explora os “inesgotáveis e intermináveis desejos
humanos”, que se reflectem, por exemplo no desesperado desejo de viver intensamente buscando mais riqueza.
Sentindo que por si só, a dança já não expressava as suas ideias na plenitude, a coreógrafa utilizou em
palco vídeo e instalações, convidando músicos a criarem música experimental. Movendo-se ao som de ritmos
electrónicos, um elegante grupo de bailarinos utilizam o corpo de forma precisa, executando movimentos
abstractos, por vezes robóticos, explorando vigorosamente o desejo, sensualidade e auto-reflexão. A peça
sumariza a interminável, e por vezes fútil repetição da vida contemporânea, expondo o absurdo
incompreensível do consumo e do desfiar de imagens digitais. Em pano de fundo, o cenário do espectáculo é
adornado por projecções a preto e branco que por vezes são entrecortadas por numerosas faixas de tecido
elástico suspensas, ao mesmo tempo ligando e separando os bailarinos a esse mundo encenado que é
representado em palco. Estes laços materiais e físicos podem ser vistos como extensões, ligações
metafóricas que convidam à reflexão, urgindo o público a sopesar a importância das suas necessidades
contra desejos excessivos. Como descobriremos em breve, estas poderão ser, no limite, as grandes intenções
de Hou Ying.
Este artigo foi publicado originalmente na
revista CCM+ (edição de Janeiro – Março, 2023) do Centro Cultural de Macau
Equipa Crativa e de Produção
Coreografia
Hou Ying
Música
Randall Love
Figurinos
Da Ke
Luzes
Liu Hengzhi
Cenografia
Hou Ying
Imagem
Yang Rui
Bailarinos
Dang Peilong, Kam Hiu Lam Alexis, Huang Jianrong, Yang Yejun,
Zhao Kai, Niu Jie, Zhu Ruimeng
Produção
Ge Huichao