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A trágica queda de uma flor

O Ballet de Xangai irá brevemente deleitar-nos com A Dama das Camélias, um grandioso bailado inspirado numa das histórias de amor mais fascinantes de todos os tempos. Originalmente escrito no século XIX pelo autor francês Alexandre Dumas filho, o romance inspirou inúmeras adaptações a caminho de tornar-se um clássico. Das peças teatrais à ópera, dos filmes aos musicais, levaria ainda algum tempo até a obra ser adaptada à dança. Lançamos um olhar aos diversos géneros artísticos inspirados pelo histórico romance de Dumas.

O reputado romance de Alexandre Dumas A Dama das Camélias retrata a atmosfera social, o espírito do período pós-romântico. Longe de ser um conto de fadas, esta história justapõe magistralmente a sumptuosidade do cenário em que se desenvolve, na bela e hedonística cidade de Paris, à dura realidade de uma relação autodestrutiva. A forma realista como Dumas Retrata as personagens principais, com todos os seus defeitos e sonhos, talvez explique o impacto duradoiro do romance, impelindo criadores de diversas esferas criativas a revisitá-lo, reinventando esta história, vezes sem conta.

Como aconteceu
Na romântica Paris do século XIX, a belíssima Marguerite Gaultier leva uma vida extravagante, escandalosa, servindo de meretriz a diversos homens de posição, entre os quais um influente duque. Conhecida como “dama das camélias”, a cortesã nunca é vista em público sem o adorno das suas flores favoritas no cabelo, que alterna entre as cores vermelha e branca, consoante a sua disponibilidade para o amor. Certa noite na ópera, Marguerite capta o olhar de Armand Duval, um atraente burguês. Os dois tomam-se de amores e o jovem torna-se obcecado, depressa percebendo que não terá meios financeiros para acompanhar o estilo de vida luxuoso da sua amante. Os planos idílicos que o casal tinha para uma recatada vida na província são interrompidos pelo pai de Armand que convence Marguerite a acabar com a ilícita ligação. Movendo-se puramente por amor, decidida a proteger Armand de dissabores futuros, a heroína resolve regressar à sua vida parisiense. Após uma dramática sequência de eventos, a história termina de forma trágica com a morte de Marguerite, vitimada pela tuberculose, uma temida doença pulmonar que naquela época era a principal causa de morte na Europa, afectando todas as classes e idades. Naturalmente, a par de outras maleitas sociais, a doença tornou-se um tópico comum à literatura, às artes visuais e na ópera.

Da tipografia ao palco
Esta história semiautobiográfica foi publicada pela primeira vez em 1848, inspirada no caso amoroso que o próprio autor teve com Marie Duplessis, uma cortesã parisiense com quem se tinha envolvido recentemente. Alguns anos mais tarde, em 1852, Dumas estreou em Paris uma versão do seu romance escrita para o palco, no Teatro de Vaudeville. Depois de um retumbante sucesso em França, a peça atravessou o Atlântico, até aos Estados Unidos, onde o papel de Marguerite (frequentemente chamada Camille nas adaptações em inglês) se tornou um dos mais apetecidos pelas actrizes americanas. Entre elas a conhecida Sarah Bernhardt, que depressa ficou associada com a personagem depois de actuar em Camellias, uma produção apresentada em Londres e Paris, mais tarde reposta em inúmeras produções da Broadway. Demorou sensivelmente um ano para que o sucesso da peça alcançasse outras latitudes, chegando a Itália onde inspirou o compositor lírico Giuseppe Verdi, que a transformou em música para a icónica ópera La Traviata (em português pode ser traduzido como cortesã infeliz). Uma vez mais Duplessis muda de nome, desta vez chamando-se Violetta, enquanto Armand se torna Alfredo. Graças a uma infeliz escolha do elenco, a obra não se tornou um triunfo imediato. Após a estreia no Teatro San Benetto em Veneza, depressa ficou evidente que o primeiro grupo de cantores não estava à altura do desafio. No entanto, passados poucos meses, bastou um elenco renovado para transformar a reposição numa das obras mais conhecidas do planeta.

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Viragem cinematográfica
Depois da versão operática, não tardou muito para que a trágica sina de Marguerite chegasse ao público moderno através do novíssimo meio artístico da altura: o cinema. Em 1912 os realizadores franceses André Calmettes e Henri Pouctal estrearam uma adaptação cinematográfica muda bastante elogiada pelo engenho visual. A partir de então, a história foi objecto de mais de 20 versões cinematográficas em diversos países, de La Mujer de las Camelias, uma produção argentina realizada em 1955 por Alexis de Arancibia, a La Dame aux Camélias, um filme franco-italiano estreado em 1981 com Isabelle Huppert como protagonista. Vinte anos depois, em 2001, apareceu Moulin Rouge, a versão de Hollywood, com Nicole Kidman e Ewan McGregor nos principais papéis. Mais recentemente, o filme subiu ao palco num musical estreado no Teatro Picadilly, em Londres, onde permaneceu até Maio do ano passado, continuando actualmente em cena na Broadway.

Piruetas no ar
Para além de brilhar nas salas de projecção e nos teatros, a obra-prima de Dumas não escapou ao olhar e energia do mundo da dança. Em 1963, altamente influenciado por um espectáculo teatral (A Dama das Camélias, com Vivian Leigh) e dois filmes, (Camille com a diva sueca Greta Garbo e O Ano Passado em Marienbad, pelo realizador da Nova Vaga francesa Alain Resnais), Frederick Ashton, à altura director do Royal Ballet, coreografou Marguerite e Armand, um bailado num acto que constituía uma representação condensada do romance. Como acompanhamento musical Ashton incorporou a sonata em Si menor de Franz Liszt, uma escolha no mínimo interessante com ligação ao romance escrito, uma vez que, tal como Dumas, o compositor húngaro, tivera um caso amoroso com Marie Duplessis, a Marguerite original. Apresentando a musa de Ashton, a imortal Margot Fonteyn e o lendário Rudolf Nureyev nos papéis principais, a peça teve um impacto tal que, na estreia, o público fez o extraordinário par regressar ao palco mais de 20 vezes. Mais de uma década depois, em 1978, foi a vez do coreógrafo americano John Neumeier apresentar a sua versão modernizada de A Dama das Camélias, uma peça criada para a sua estrela Marcia Haydeé e o Ballet de Estugarda, dançada ao som da belíssima e evocativa música de Frédéric Chopin. Foram muitas as adaptações e reposições deste clássico produzidas em todo o mundo, e Macau não foi excepção. Em 1999, o Ballet de Hong Kong subiu ao palco do Grande Auditório do Centro Cultural de Macau, na altura acabado de estrear, para deleitar o público com a aventura trágicoglamorosa de Armand e Marguerite. A peça foi coreografada por Domy Reiter-Soffer, que também criou os cenários e desenhou os figurinos.

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Cartaz do filme Moulin Rouge, estreado em 2001.

Fonteyn e Nureyev em palco nos anos 60XD

Fonteyn e Nureyev interpretaram Marguerite e Armand,
nos anos 60

Path 1

Brevemente em sala
Mais de 20 anos depois de nos terem visitado, os desventurados amantes estão de volta, desta vez trazidos pelo Ballet de Xangai, uma das mais prolíficas companhias de bailado asiáticas. Criada em 2019 pelo célebre coreógrafo e director artístico Dereck Dean, antigo director artístico do Ballet Nacional Inglês, esta versão é concebida a partir da perspectiva da heroína. Utilizando uma abordagem em flashback para recontar a história, abrindo com a cena da morte de Marguerite, Dean procurou “integrar a natureza das personagens em cada segmento de dança”, para vincar um tom de tragédia e de conflito dramático. Embora o elegante e enérgico movimento dos bailarinos seja sem dúvida crucial na peça, os cenários, o desenho de luz e, claro, a música, desempenham também um importante papel. A partitura foi escrita por Carl Davis, prolífico compositor e maestro americano nomeado dos Grammy, criador de temas para algumas das séries mais populares da televisão britânica, bem como cinema e trabalhos sinfónicos. A propósito, Davis também passou uma vez por Macau onde esteve com a Filarmónica de Hong Kong a dirigir uma série de composições para filmes de Charlie Chaplin.

Assim, agora que ficámos com uma imagem mais clara e abrangente desta história imortal, que poderemos esperar quando o trágico romance for levado à cena no nosso próprio palco? Apesar da distância histórica e diversidade do contexto social, as emoções que emanam deste bailado permanecem fortemente enraizadas no romance de Dumas e nas temáticas que ele procurou abordar de início.  Sabendo que o autor estaria na altura com vinte e poucos anos ajudará a explicar alguma da imaturidade associada ao protagonista masculino. Finalmente, poderemos até sobrepor a forma como a condição feminina e os direitos das mulheres têm mudado, isto sem deixar de sentir uma aprofundada empatia pelo destino de Marguerite. Além do mais, rendamo-nos simplesmente ao puro prazer de assistir ao trabalho de bailarinos de excelência quando estes fazem o que melhor sabem.

Alexandre Dumas
Nascido em Paris em 1824, Alexandre Dumas é filho do célebre escritor francês com o mesmo nome, ele próprio conhecido por grandes clássicos como Os Três Mosqueteiros, O Conde de Monte Cristo e Rainha Margot. O Dumas mais novo também teve grande sucesso, embora o seu estilo de escrita seja bastante diferente do registo paterno. Dumas filho descobriu a sua vocação como dramaturgo, escrevendo sobre o seu próprio tempo, inspirado na sua experiência familiar enquanto filho de uma ligação amorosa ilícita. Foi um dos percussores da “dramatização problemática” uma forma de teatro realista que imergiu na Europa no século XIX. Dumas retratava frequentemente personagens femininas trágicas e a sorte das crianças ilegítimas. Quando se mudou com o pai para os arredores da capital francesa em 1844, Dumas envolveu-se numa relação amorosa com Marie Duplessis, uma bela cortesã que seria a sua inspiração para a obra-prima literária, A Dama das Camélias.      

Marie Duplessis (a Marguerite original)
Quando escreveu A Dama das Camélias, Dumas filho reviveu a sua relação com Marie Duplessis, uma conhecida cortesã parisiense que, tal como a heroína do romance, morreu endividada e muito jovem, vítima de tuberculose. Nascida num meio pobre, a belíssima e arguta Duplessis depressa se impôs nos salões da alta sociedade onde recebia algumas das figuras mais notáveis da cidade. Tal talvez explique porque, apesar da má fama de mulher perdida, centenas de pessoas compareceram ao seu funeral.

小仲馬
小仲馬1824年出生於巴黎,父親是創作《三劍客》、《基督山伯爵》和《瑪爾戈王后》等名著的法國知名作家大仲馬,雖然寫作風格與父親的截然不同,但小仲馬同樣取得了巨大的成功。小仲馬是19世紀歐洲興起的現實主義戲劇「社會問題劇」的創始人之一,身為私生子的家庭經歷啟發了他展開劇作家的生涯,書寫其所處的時代,經常刻畫悲慘的女性人物和私生子的命運。在1844年與父親一起移居到法國首都的市郊期間,小仲馬結識了美麗的交際花瑪麗.迪普萊西,並以她為原型創作了他的文學代表作《茶花女》。
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Retrato de Marie Duplessis 1824-1847

Retrato de Alexandre Dumas filho (1824-1895)

Ballet de Xangai - A Dama das Camélias
09-10.06.2023
Grande Auditório

A trágica queda de uma flor

O Ballet de Xangai irá brevemente deleitar-nos com A Dama das Camélias, um grandioso bailado inspirado numa das histórias de amor mais fascinantes de todos os tempos. Originalmente escrito no século XIX pelo autor francês Alexandre Dumas filho, o romance inspirou inúmeras adaptações a caminho de tornar-se um clássico. Das peças teatrais à ópera, dos filmes aos musicais, levaria ainda algum tempo até a obra ser adaptada à dança. Lançamos um olhar aos diversos géneros artísticos inspirados pelo histórico romance de Dumas.

O reputado romance de Alexandre Dumas A Dama das Camélias retrata a atmosfera social, o espírito do período pós-romântico. Longe de ser um conto de fadas, esta história justapõe magistralmente a sumptuosidade do cenário em que se desenvolve, na bela e hedonística cidade de Paris, à dura realidade de uma relação autodestrutiva. A forma realista como Dumas Retrata as personagens principais, com todos os seus defeitos e sonhos, talvez explique o impacto duradoiro do romance, impelindo criadores de diversas esferas criativas a revisitá-lo, reinventando esta história, vezes sem conta.

Como aconteceu
Na romântica Paris do século XIX, a belíssima Marguerite Gaultier leva uma vida extravagante, escandalosa, servindo de meretriz a diversos homens de posição, entre os quais um influente duque. Conhecida como “dama das camélias”, a cortesã nunca é vista em público sem o adorno das suas flores favoritas no cabelo, que alterna entre as cores vermelha e branca, consoante a sua disponibilidade para o amor. Certa noite na ópera, Marguerite capta o olhar de Armand Duval, um atraente burguês. Os dois tomam-se de amores e o jovem torna-se obcecado, depressa percebendo que não terá meios financeiros para acompanhar o estilo de vida luxuoso da sua amante. Os planos idílicos que o casal tinha para uma recatada vida na província são interrompidos pelo pai de Armand que convence Marguerite a acabar com a ilícita ligação. Movendo-se puramente por amor, decidida a proteger Armand de dissabores futuros, a heroína resolve regressar à sua vida parisiense. Após uma dramática sequência de eventos, a história termina de forma trágica com a morte de Marguerite, vitimada pela tuberculose, uma temida doença pulmonar que naquela época era a principal causa de morte na Europa, afectando todas as classes e idades. Naturalmente, a par de outras maleitas sociais, a doença tornou-se um tópico comum à literatura, às artes visuais e na ópera.

Da tipografia ao palco
Esta história semiautobiográfica foi publicada pela primeira vez em 1848, inspirada no caso amoroso que o próprio autor teve com Marie Duplessis, uma cortesã parisiense com quem se tinha envolvido recentemente. Alguns anos mais tarde, em 1852, Dumas estreou em Paris uma versão do seu romance escrita para o palco, no Teatro de Vaudeville. Depois de um retumbante sucesso em França, a peça atravessou o Atlântico, até aos Estados Unidos, onde o papel de Marguerite (frequentemente chamada Camille nas adaptações em inglês) se tornou um dos mais apetecidos pelas actrizes americanas. Entre elas a conhecida Sarah Bernhardt, que depressa ficou associada com a personagem depois de actuar em Camellias, uma produção apresentada em Londres e Paris, mais tarde reposta em inúmeras produções da Broadway. Demorou sensivelmente um ano para que o sucesso da peça alcançasse outras latitudes, chegando a Itália onde inspirou o compositor lírico Giuseppe Verdi, que a transformou em música para a icónica ópera La Traviata (em português pode ser traduzido como cortesã infeliz). Uma vez mais Duplessis muda de nome, desta vez chamando-se Violetta, enquanto Armand se torna Alfredo. Graças a uma infeliz escolha do elenco, a obra não se tornou um triunfo imediato. Após a estreia no Teatro San Benetto em Veneza, depressa ficou evidente que o primeiro grupo de cantores não estava à altura do desafio. No entanto, passados poucos meses, bastou um elenco renovado para transformar a reposição numa das obras mais conhecidas do planeta.

the lady of the Camellias2 XD

Brevemente em sala
Mais de 20 anos depois de nos terem visitado, os desventurados amantes estão de volta, desta vez trazidos pelo Ballet de Xangai, uma das mais prolíficas companhias de bailado asiáticas. Criada em 2019 pelo célebre coreógrafo e director artístico Dereck Dean, antigo director artístico do Ballet Nacional Inglês, esta versão é concebida a partir da perspectiva da heroína. Utilizando uma abordagem em flashback para recontar a história, abrindo com a cena da morte de Marguerite, Dean procurou “integrar a natureza das personagens em cada segmento de dança”, para vincar um tom de tragédia e de conflito dramático. Embora o elegante e enérgico movimento dos bailarinos seja sem dúvida crucial na peça, os cenários, o desenho de luz e, claro, a música, desempenham também um importante papel. A partitura foi escrita por Carl Davis, prolífico compositor e maestro americano nomeado dos Grammy, criador de temas para algumas das séries mais populares da televisão britânica, bem como cinema e trabalhos sinfónicos. A propósito, Davis também passou uma vez por Macau onde esteve com a Filarmónica de Hong Kong a dirigir uma série de composições para filmes de Charlie Chaplin.

Assim, agora que ficámos com uma imagem mais clara e abrangente desta história imortal, que poderemos esperar quando o trágico romance for levado à cena no nosso próprio palco? Apesar da distância histórica e diversidade do contexto social, as emoções que emanam deste bailado permanecem fortemente enraizadas no romance de Dumas e nas temáticas que ele procurou abordar de início.  Sabendo que o autor estaria na altura com vinte e poucos anos ajudará a explicar alguma da imaturidade associada ao protagonista masculino. Finalmente, poderemos até sobrepor a forma como a condição feminina e os direitos das mulheres têm mudado, isto sem deixar de sentir uma aprofundada empatia pelo destino de Marguerite. Além do mais, rendamo-nos simplesmente ao puro prazer de assistir ao trabalho de bailarinos de excelência quando estes fazem o que melhor sabem.

Viragem cinematográfica
Depois da versão operática, não tardou muito para que a trágica sina de Marguerite chegasse ao público moderno através do novíssimo meio artístico da altura: o cinema. Em 1912 os realizadores franceses André Calmettes e Henri Pouctal estrearam uma adaptação cinematográfica muda bastante elogiada pelo engenho visual. A partir de então, a história foi objecto de mais de 20 versões cinematográficas em diversos países, de La Mujer de las Camelias, uma produção argentina realizada em 1955 por Alexis de Arancibia, a La Dame aux Camélias, um filme franco-italiano estreado em 1981 com Isabelle Huppert como protagonista. Vinte anos depois, em 2001, apareceu Moulin Rouge, a versão de Hollywood, com Nicole Kidman e Ewan McGregor nos principais papéis. Mais recentemente, o filme subiu ao palco num musical estreado no Teatro Picadilly, em Londres, onde permaneceu até Maio do ano passado, continuando actualmente em cena na Broadway.

Piruetas no ar
Para além de brilhar nas salas de projecção e nos teatros, a obra-prima de Dumas não escapou ao olhar e energia do mundo da dança. Em 1963, altamente influenciado por um espectáculo teatral (A Dama das Camélias, com Vivian Leigh) e dois filmes, (Camille com a diva sueca Greta Garbo e O Ano Passado em Marienbad, pelo realizador da Nova Vaga francesa Alain Resnais), Frederick Ashton, à altura director do Royal Ballet, coreografou Marguerite e Armand, um bailado num acto que constituía uma representação condensada do romance. Como acompanhamento musical Ashton incorporou a sonata em Si menor de Franz Liszt, uma escolha no mínimo interessante com ligação ao romance escrito, uma vez que, tal como Dumas, o compositor húngaro, tivera um caso amoroso com Marie Duplessis, a Marguerite original. Apresentando a musa de Ashton, a imortal Margot Fonteyn e o lendário Rudolf Nureyev nos papéis principais, a peça teve um impacto tal que, na estreia, o público fez o extraordinário par regressar ao palco mais de 20 vezes. Mais de uma década depois, em 1978, foi a vez do coreógrafo americano John Neumeier apresentar a sua versão modernizada de A Dama das Camélias, uma peça criada para a sua estrela Marcia Haydeé e o Ballet de Estugarda, dançada ao som da belíssima e evocativa música de Frédéric Chopin. Foram muitas as adaptações e reposições deste clássico produzidas em todo o mundo, e Macau não foi excepção. Em 1999, o Ballet de Hong Kong subiu ao palco do Grande Auditório do Centro Cultural de Macau, na altura acabado de estrear, para deleitar o público com a aventura trágicoglamorosa de Armand e Marguerite. A peça foi coreografada por Domy Reiter-Soffer, que também criou os cenários e desenhou os figurinos.

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Cartaz do filme Moulin Rouge, estreado em 2001.

Fonteyn e Nureyev em palco nos anos 60XD

Fonteyn e Nureyev interpretaram Marguerite e Armand,
nos anos 60

Path 2

Alexandre Dumas
Nascido em Paris em 1824, Alexandre Dumas é filho do célebre escritor francês com o mesmo nome, ele próprio conhecido por grandes clássicos como Os Três Mosqueteiros, O Conde de Monte Cristo e Rainha Margot. O Dumas mais novo também teve grande sucesso, embora o seu estilo de escrita seja bastante diferente do registo paterno. Dumas filho descobriu a sua vocação como dramaturgo, escrevendo sobre o seu próprio tempo, inspirado na sua experiência familiar enquanto filho de uma ligação amorosa ilícita. Foi um dos percussores da “dramatização problemática” uma forma de teatro realista que imergiu na Europa no século XIX. Dumas retratava frequentemente personagens femininas trágicas e a sorte das crianças ilegítimas. Quando se mudou com o pai para os arredores da capital francesa em 1844, Dumas envolveu-se numa relação amorosa com Marie Duplessis, uma bela cortesã que seria a sua inspiração para a obra-prima literária, A Dama das Camélias.      

Marie Duplessis (a Marguerite original)
Quando escreveu A Dama das Camélias, Dumas filho reviveu a sua relação com Marie Duplessis, uma conhecida cortesã parisiense que, tal como a heroína do romance, morreu endividada e muito jovem, vítima de tuberculose. Nascida num meio pobre, a belíssima e arguta Duplessis depressa se impôs nos salões da alta sociedade onde recebia algumas das figuras mais notáveis da cidade. Tal talvez explique porque, apesar da má fama de mulher perdida, centenas de pessoas compareceram ao seu funeral.

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Retrato de Alexandre Dumas filho (1824-1895)

Marie DuplessisXD

Retrato de Marie Duplessis 1824-1847

Ballet de Xangai - A Dama das Camélias
09-10.06.2023
Grande Auditório